quinta-feira, agosto 23, 2012

Apoplexia da prolixidade.



Todos escrevem melhor do que eu,
Todos lêem coisas melhores do que eu,
Todos são pensantes melhores do que eu,
Eu só sei escrever com o “Aurélio” aberto.

Todos gesticulam gesticulosamente melhor do que eu,
Todos pensam e raciocinam melhor do que eu,
Todos os gostos musicais e literais são melhores do que os meus,
Eu só sei ler o que os outros desprezam.

Todos os cérebros, são prazerosamente mais férteis que o meu,
Todos as falas são mais aveludadas que a minha,
Toda as bocas falam menos merda que a minha,
Todos os corpos são Apolos e Afrodites... Menos o meu.

Eu só sei ser o Quasímodo que me é despido.
Eu só sei ser o leitor de gibis envelhecidos...
Eu só sei ser o pensador que a cabeça dói ao ler um artigo,
Eu só sei ser a alma exilada fraca e absurda!

Todos os conceitos são mais tangíveis que os meus,
Todos os raciocínios são mais lógicos que os meus,
Todos as teses são mais coerentes que as minhas,
Eu só sei pensar pela cabeça dos outros.
           
Todos são engraçados e simpáticos, menos eu!
Todos são sociáveis e simpáticos... Menos eu!
Todos são coerentes e generosos, menos eu!
Menos eu, subtraído nato,
Exclusão de natividade obtusa.

Todas as sínteses são notórias e concisas, menos a minha,
Todos falam estritamente o importante e necessário, menos eu!
Todos escrevem num português bonito e correto... Menos eu!
Menos eu, menos eu... Menos nada!

A minha inveja é mais pérfida e chula quanto a outra qualquer,
Os meus poemas são tão fracos perante o mais simples que houver,
As minhas divagações são mais prolixas do que outra qualquer,
As minhas certezas são mais incertas que a própria palavra.

Quando será que cairei no meu mundo pobre?
Quando?
Quando sairei desse mundo de pessoas férteis e ricas,
Pessoas de beleza interior e exterior mais reluzente que
A merda do sol cinzento que eu enxergo?

Aonde encontrarei as pessoas falhas como eu,
Pessoas nada intelectuais,
Aonde encontrarei mentes nada geniosas,
Sorrisos espontâneos extintos,
Onde as máscaras não existem.
  
Aonde encontrarei o meu mundo,
Aonde serei eu sem ser importunado,
Quem irá viver ao meu lado?
Quem?
Quem não me dirá não ser um nada,
Quem? Quem mais?

Aliás...
Eu sou o nada!
Enquanto a perfeição ronda nos olhos alheios
Nenhuma coisa, coisa alguma, eu sou!
Algo prolixo e sem algum intelecto,
Não me sinto poeta, eu sou um objeto.

Eu nunca fui nada,
Eu nunca vou ser nada...
Mas que se explodam!
Eu não preciso desse tudo,
Nem preencher meu vazio com o tudo de vocês.

Nem tão pouco ser poeta me é necessário.
A poesia já se fez presente e rica noutros olhos,
E viver a escrever vago e torto assim
Deixem pra mim,
Esse é o meu labéu.


2 comentários:

A menina dos origamis disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
www.vidasamargas.wordpress.com/ disse...

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