terça-feira, janeiro 22, 2013

O catre


No catre cerrado, revelam-se todos os teus mistérios,
As chaves são aceitas e teus cadeados destravados,
Por quanto tempo, agora não importa,
É possível sentir a brisa que vem da janela do teu corpo.

Abro uma cortina e a tua alma semisolta,
Faz-me constatar a conspiração dos nossos acasos.

No impasse do tempo:
A tua boca revela-se;
Os teus olhos me buscam;
Tuas mãos são minhas cúmplices;
E o teu corpo responde ao meu tato.

A tua maquiagem borrada grita o meu nome,
Desenho os teus ombros,
Enquanto sinto o frescor do teu banho,
Enquanto os teus olhos me suspiram,
Eu acho o caminho que nunca trilhei mas já o sabia,
Enquanto tua boca ávida me procura.

Teus olhos me contam tua história,
Imprecisa. Deflagra e elimina minha experiência,
De ter vivido um amor que nunca existiu,
De viver uma vida que nunca foi tão viva.

Meu mundo era um poema inacabado:
De estrofes decaídas;
De rimas falhas;
De um amor já velho e amputado;
Compactuando com uma conjuntura arcaica e obsoleta.

Eu que nunca fui dono de mim.

A madrugada é o teu leito. Dormes inerte,
Mas percebes que levanto a todo instante,
Estás desarmada e mesmo assim me deixas te ninar.

Velo o teu sono, te aproveito inconsciente,
Com a alma prestes a ebulir
o sangue e hálito de cigarro barato,
Faço-te juras de amor
que nunca saberás que fui eu que proferi.

O anjo o qual pedi para levar tais juras
E registrá-las na página de recortes da tua vida,
Perguntou-me se eu tinha certeza disso,
E foi simples por entre o meu divagar que lhe respondi:
__De amor, meu caro, sempre se morre.


É, pode ser que a maré não vire
Pode ser do vento vir contra o cais
E se já não sinto teus sinais
Pode ser da vida acostumar
Será, morena?

Sobre estar só, eu sei...



sexta-feira, janeiro 11, 2013


Vai, foge. Pode correr. Pula o muro, se estrepa toda, levanta e continua. Eu te dou alguns minutos de vantagem. Foge. Ainda dá tempo, penso. Grita, chora, se joga nos vãos da vida.
Esperneia, tenha raiva, murmure, gesticule, simule, decaia, pragueje, amaldiçoe. Mas então foge. Para o mais longe que tu puderes. Tente. Vai, pode correr, tentar esquecer. Até dormir vale. Se entope de Rivotril. Não tem por onde ser diferente. Eu estou em você. Você está em mim. Eu que não sou besta, não fujo e te espero. Mas se você é teimosa e quer tentar... Vai, foge. Eu ainda estarei aqui, sentado, fazendo palavras cruzadas procurando sinônimos de luta e de amor desesperado. Quando cansares de me esquecer basta suspirar meu nome e voltar.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Tangerine eyes.


Qual a cor dos teus olhos?
É da cor que bate compassada em meu peito.
É da cor que permeia todos os meus pensamentos.
Teus olhos cascatas dos meus desejos.
São miríades da constelação do meu universo.

Qual a cor dos teus olhos?
São amálgamas cristalinas tanto densas.
São desesperos do meu pranto de medo e covardia.
É a cor da ventura no mar de minha fantasia.

Meus olhos de mel.
Tens o brilho da cor do meu pecado,
Onde ressurge lépida a passos largos,
A mais fina sintonia de oboé ritmado.

Tu tens as cores dos meus desejos.
Tu tens o brilho da lua que me emociona.
Tu és a cordilheira dos Andes por onde ando descalço,
Para te sentir meu destino e meu fundamento.

E se me perguntam qual a cor dos teus olhos?
Respondo:
Ela tem os olhos da vida que me ressurge,
Tem os olhos que formam meu oceano de mel,
Tem a sedução no brilho e no encantar,
E sua forma de amêndoas é o que me fascina.

Oceano de brilho da paixão desperta no poeta pequeno que sou.

Se sou, o que sou, quem serei, que importa?
Mais me vale vagar pela onda das cores
do mar dos teus olhos de topázio,
Onde tudo verte belo e absoluto,
Do que viver a mais intensa alegoria de consagração.