quinta-feira, abril 28, 2016

Mortal Loucura


Testemunhei a tensa densidade rígida desse corpo.
Por tão a esquiva da lágrima, menina...
Na embaçada retina, vi.
Soprei o gosto no teu ventre.

Teu adeus foi um pedido de remissão,
Uma tática demissão do teu cargo,
Perene, leve e sinuosa,
Adeus mais tarde.

“Deseja-me sorte”... Mas tens a sorte dos loucos,
Dos despudorados e ventríloquos dos bonecos do amor,
Dos mergulhadores acrobatas de cimos suicidas,
Dos corações kamikazes calejados de sofreguidão e clausura.

Teu ar tropeçando no tempo do telefone saiu à francesa,
Porque ser feliz de dar dó é o teu destino,
O pinhão te espera na panela a esquentar...
Quem sabe te encontro por aí e tua alegria nem me verá passar,
E eu destemido, pulso na língua te digo: Vai.

Eu preciso ir também para onde quer que eu seja,
A desembocar numa mesa de bar tocando FM barata,
Cerveja quente de ornamento, na ponta um cravo,
Uma caneta chorosa gritando pra mim: Se foi... vai!

Não dá mais eu, não dá mais você,
Não dá mais esse trago pouco rouco louco de ânsias,
Não dá mais essa música repetitiva de versos fáceis,
Não dá mais essa luta de pivetes na beira do sinal.

Porque o troco da esmola é o que se pedia,
E o abraço pedinte com beijo na testa é o que se teria,
E a presença muda no telefone não mais bastaria,
E eu te digo: Vai. 

Vais porque o tempo há de me manter gelado,
Barba prata hirsuta, marca da testa revelada em meu piado,
Dos olhos flagelos de um rei sem um cavalo,
A mão pedinte de dó sem dó, coração, um condenado.

Enterra... e vai!