quarta-feira, fevereiro 14, 2018

Qual de nós dois?

O que tinha de ser foi-se na hora partida,
E o encontro travou-se, congelou-se a despedida,
A minh’alma contradisse-se num vago parecer,
E a luz do meu mundo sofreu-se no mais puro esmaecer.

Tudo esbarra embriagado no lume,
Faz-se em mim arpão cravado imune,
E a velha dor de dizer demais, trava a língua... nunca mais!
Por que foste a derradeira briga, a faca curtida nas vísceras.

Em que se quis a minha batalha ser vencida... bem que se quis
E bem ali, na palavra batida, um gole tragado, alvo por um triz,
Do sim e do não estragado, palavras para quê, tem dúvida?
E na rua o incólume curtume, o cheiro, o pó da guia...

Há mais tenra agonia depois de ter você? Qual agonia?
Há mais tensa euforia depois de ter você? Qual a euforia?
Há tristes tratos, olfatos parcos, corpos castos, solos desfraldados,
Há o certo do não errado, da maneira malfadada, obturados tratos.

E se eu escrever-te o último verso, depois do último vento furioso,
E se na praia do meu coração chover initerruptamente por sete anos,
E se meus lábios secarem como cactos no frio, extinto e esquecido,
E se eu viver nos braços da solidão que me chama...

Não deverás partir de lamentos e soluço.
Não deverás surgir na vitrine de uma galeria em luto,
Não deverás sequer pensar em mim,
Porque em ti há de nascer mais uma gostosa ventura.

Tenha em tuas mãos pequenas a sorte dos poucos,
Tem-se em meus olhos a sinfonia do trovão primeiro,
Tem-se a hora de esbalde, resvala em ti a nascença desenvoltura,
Do amar a outro, que seja e preste outro, à parte, minha soltura.

Eu não te deixarei herança alguma,
O caos foi implantado e arrancado no tempo de um soluço,
Olha... eu não te deixarei nem a prima da loucura,
Eu não te deixarei nem mesmo... sequer... um verso de brandura.

Quanto menos um amor de estirpe baixa, raso, crasso...
Um livro disparate de um sorriso nervoso,
Uma imagem invisível revoluta...
Esquecerás de mim no dobrar de uma esquina,

Enquanto teus pés eu vigio e toco pelas sombras.