quinta-feira, julho 19, 2012

Talvez fosse eu (Poema resposta).

Talvez ainda não era o momento de o tempo ser nosso.
Talvez não, talvez o tempo era pra ser mesmo breve, Intenso, mas breve;
doloroso, mas com um ar etéreo e agradável.
Talvez a duração de nossas vidas juntas era a mesma de o tempo
de um romance francês dirigido por Jeunet, o qual assistimos tipo
naquelas tardes de frio solitárias. Talvez essa percepção do que
vivemos juntos, um dia nos faça chorar até que as lágrimas se
sequem por si só, fiquemos deitados, incertos, nos perguntando
o porquê não assistimos esse filme antes.
Talvez a certeza que eu estranhava querendo desacreditar saiu fora
dos meus planos e talvez sejamos dois ladrões que roubaram a madrugada
para fazer dela a nossa cama, e o universo conspirou pelo nosso beijo,
mas não sabíamos que esse tal de amor foi para nós dois como  o último
trago de vinho doce que deixou o gosto seco, na boca seca,
de lábios secos, de língua seca, e olhos vagos cheios de traumas
e repletos de versos órfãos, cheios de carência, cheios de tristeza,
cheios de maldade, cheios de saudade, cheios de fome que não sacia,
fome..., que não sacia, fome..., fome que denuncia, fome que tripudia,
 fome que rouba o dia. Talvez a minha alma tenha se alegrado um pouco
e se sentido viva, desejou uma vez ser mais, ter mais, viver mais, amar mais.
Envelhecer... Mais! Mais, muito mais, vários mais muito mais.
Finalmente encarar a roda gigante, de peito erguido e sem esquecer de
prender a respiração na subida.
Olha lá, poeta, abre os olhos, tira os óculos do disfarce,
porque ela não imaginava que também o encontraria e passaria por tudo isso,
nem nessa vida nem na outra vida, nem na sua vida se ela passasse. Sofre.
Ao primeiro instante me parece foi tudo tão cruel, tão sem piedade,
o amor, essa raposa pregando mais uma peça, se lambuzando de
 nossas lágrimas e emoções e pavor e ilusão e desconsertos turbulentos.
Talvez aquelas vezes que eu ficava sem fôlego quando você se aproximava
e permanecia nesse suplício todo o tempo que eu estava ao seu lado,
era sinal de que os tempos vindouros seriam punks.
Sem essa, você sabe: Porque o amor é punk, entendeu?!
Mas é punk do seu jeito. O amor não é democrata, nem de esquerda,
nem socialista ele é, muito menos anarquista, o amor é de centro-direita.
A prova disso está no nosso peito. O amor não pensa nos outros,
quer saber se você o quer, se você o aceita, se você vai saber lidar com ele.
Dane-se você! Dane-se! Talvez eu esteja aqui, de mãos perdidas sem saber o que te dizer,
como menino que quebrou o vaso da sala e precisa confessar seu crime.
Talvez eu seja essa criança inversa aos costumes que não sabe como ser,
Sentir-se parte integrante de um elenco de uma peça infantil mal elaborada,
Talvez eu seja um cachorro pedinte, daqueles magros de viver,
E que te viu e abanou o rabo, caprichou no olhar melancólico, roçou
em tuas pernas para te ganhar, e ver teu sorriso estampado, até esquece
que tá morrendo de fome. Talvez sem você meu tempo pare,
a chuva continue, o sol vá embora.
Talvez eu esqueça você, e me enamore novamente pela Lua, e sinta que
Meu destino é mesmo a olhar de longe sabendo que já a pertenço.
Talvez eu me depare bem velhinho, com uma camisa polo listrada
com o símbolo do Mensa estampado no peito e suspensórios,
de bengala, na biblioteca pública jogando xadrez com algum moleque
e irritado por ele ser lerdo demais para mexer a peça, e você passe,
ainda jovem, linda e reluzente, deixando um rastro de versos
que só eu saberei identificar o sabor e apanharei cada palavra
entornada no chão que deixares ao passar.
Será sim, talvez, que você relembre de mim um dia?
Talvez eu seja mesmo alguém normal que pensa que não é alguém normal,
 que acha que não anda feito alguém normal,
muito menos que sabe lidar com a vida normal, com um lerdo significado normal,
parecer normal, viver normal, amar normal.
Espera ai, amar normal eu não saberia! Talvez um dia a loucura desse momento
te mande um cartão postal, e te faça no futuro relembrar o que para ti
foi tão cheio de significados e no momento presente nada mais faça sentido,
eu penso logo no teu sorriso de canto de boca com aquele respirar forte
pelo nariz, constatando que eu perco em tudo porque:
O doce do beijo dele é mais doce que o doce do doce do beijo meu;
Ele não tem as mãos suadas feito as minhas e aperta sua mão mais forte do que eu;
A sua vontade de viver ao lado e envelhecerem juntos agora é com ele;
Porque a maneira de olhar quando ele fala e o interrompe
para dizer que a boca dele é bonita é mais frequente que quando era comigo.
Talvez eu seja a representatividade de sua imagem de futura mulher dos gatos,
Talvez eu seja a tua sentença do crime que nunca cometeste,
Mas talvez nada que eu escreva faça mais sentido e tu não mais me reconheças,
e isso tudo que registro seja apenas uma fusão da minha real vida e meus poemas.
Talvez a nossa vontade não tenha peso algum,
Porque como eu sempre digo: O amor não liberta ou nos dá escolhas.

Curitiba, inverno de 2012.

Nenhum comentário: