sexta-feira, julho 06, 2012

Isso não é mais um poema meu I


Em verdade, em verdade eu te digo, minha alma, eu sou peça atormentada pelo peso de minha própria existência. E não obstante, também pelo amor. É por isso que eu soo essas palavras gauches, e vivo feito bola de pinball a bater trançado ricocheteando em desatino pelas barreiras das ruas retas de Curitiba.
Ganhei, minha alma, de nascença, uma rosa de pendão derrocado cravada no peito. E desde a minha crença, minha alma, tu te revelaste propriamente cônjuge dessa sina, esse suplício, essa inquietude verborrágica crassa, atemporal, que tomei tenência e finalmente soube para o que eu tinha vindo pousar neste mundo. Mas eu tenho medo, minha alma.
Eu queria, sabe, minha alma, poder acordar numa manhã de inverno, daquelas com o céu límpido e azul que dá gosto, sem nuvem alguma a manchá-lo, com aquele sol que engana, sabe?! E respirar profundamente o ar gelado, sentir meus pulmões usando todo o limite de superação e ocupando o espaço de ar.
Eu queria, minha alma, não sofrer por Ela, não saber que me sustento em saber de mim, por ela. Pensar e deixar de pensar o que faço para agradá-la. Minha alma... eu..., eu..., eu me afundo cada vez mais, e me entrego mesmo com o corpo todo dolorido, e confesso que vezes, esses meus olhos míopes, turvamente contraídos, no obscuro caminham a cuidá-la, a vendo passar, roubando o seu cheiro que por onde ela passa o deixa materializado. Eu queria, minha alma, poder não deixar de almoçar para passar ininterruptas vezes na frente do seu trabalho, só para saber que mesmo que sem ela saber de mim, eu me alegro em saber que perto dela estou um pouco mais.
Tem horas, minha alma, tem horas que meus bolsos ficam pesados, porque cada vez que penso nela, verte uma pedra brilhante de cada olho, e rasga minha pele e fere e sangra a minha íris, e cada uma delas eu tenho dó de descartar, por mais que elas me feriram, eu não sei largar do que me fere, então as guardo nos bolsos. Mas minha alma, esse meu predestinado sofrimento é coisa que se valha?
Há uma corrente que passa um cursivo rio, que assim, é um filete na verdade, que não sei nem onde desemboca, só sei que o nome dela escorre por entre essas águas, é cristalina, eu vejo, minha alma, eu vejo cada letra lá no fundo, são as mesmas cravadas a ferro e fogo na minha língua, e cada desenho que se forma eu sei que é para mim, e tem vez que elas se embaraçam, e eu corro, mas tem pedras no caminho, as chuto, caio, tropeço, minha boca sangra. Vezes mordo a língua, entende?! E a camisa nem tem mais cor definida, de barro, de sangue, de suor, de vinho e dor. A única coisa que predomina, e conseguirias decifrar em meu corpo encoberto dessas vicissitudes, minha alma, seria essa rosa que calha torta no peito meu, mas como a escondo de todas as maneiras, seria difícil me identificares através dela, minha alma. Mas há um modo, minha alma, de saberes de mim, de sobremaneira a não deixar dúvidas, tu podes. Quando na súbita maneira febril, a noite calhar torta por entre as árvores, e o silvo da linha do tempo plainar por sobre o horizonte, e um bardo, em pé, se materializar na tua frente, arqueado de cansaço, trôpego e pobre, estático te cuidando de soslaio, é fácil saberes que sou eu pelo simples fato de, minha alma, reconheceres que este é teu reflexo fora do espelho.

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