terça-feira, julho 31, 2012

Eu te amei... Tu foste minha.


É fato que passaste em minha vida como uma estrela
que risca os céus em noite límpida de verão em Capri,
E eu te guardei aqui, por que te amei, e tu foste minha.

Eu te amei, tu foste minha, na ordem variável das coisas, eu sei,
Não me importa quando, em que século, de que forma,
Eu te amei, verdadeiramente te amei e foste minha, ressalvo.

Antes de amar-te, esqueci-me dos teus beijos,
E a minha boca se vencia nas linhas dos teus lábios indissolutos,
E no teu corpo, uma tarde de primavera onde os sinos dobram,
As minhas mãos segregadas cheias do teu cheiro partiram marcadas.

Como convêm ao longe, o amante acena ao amor que parte,
No coração, em prantos com pouca força ainda afirmo:
Eu te amei, tu me amaste, eu fui teu e tu foste minha!

Em resposta, a tua boca ao longe, balbucia-me desordenadamente,
Ainda como fachos de lampejo leio em teus lábios,
coisas que nem sei o quê, indiscerníveis,
como o rechiar das ondas ao vento na matina bravia,
Tu, ao longe.
Eu, nada escuto, nada escuto...

Dialética


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...


 Vinícius de Moraes

segunda-feira, julho 30, 2012

La mer.



Isolde:   Sur le sable en face de la mer dans la nuit sans toi.

Tristan:  Tu ne m'écoutas pas.
   J'ère l'urle du vent, seulement, t’appeler.
   Et ton regard direct, incisive il atteignait l’horizon noir,
   inhérent à ce qui conspirait, peut-être à la solitude,
   il m’ignorait. Sans attention tu étais,
   et moi j’etais perdu, dans l’horizont de la mer à tes pied. 


sexta-feira, julho 27, 2012

Salinger

"Os poetas estão sempre tomando o tempo de maneira tão pessoal. Eles estão sempre furando suas emoções em coisas que não têm emoções. "

 

quinta-feira, julho 26, 2012

Isso não é mais um poema meu II


Eu não consigo. Simplesmente eu não posso, nem devo. Eu sei que também nem quero. Não posso querer estragar tudo e tentar fazer algo pra te mostrar o quanto você me tocou. Nessas horas ser poeta nem vale de nada. Eu só sabia te abraçar. É isso que eu faço, no meio de situações que pedem palavras eu me calo, só sei abraçar, e é isso. Mas eu faço, abraço e aperto as pessoas contra o peito, o que faz com que algumas até estranhem, e tentam se afastar rapidamente, mas é que eu quero que sintam o pulsar do meu peito, que naquele momento saibam que é forte, sabe? É por isso que eu abraço forte, calado, mas forte, pra que sintam meu peito bater, porque o coração também fala, saca?
O seu gesto foi tão lindo. Lindo e aterrorizador, sim, porque você me deixou aterrorizado, diante de um gesto tão enorme, e eu sentado naquele banco de praça me senti tão pequeno, um menino indefeso, olhando nos teus olhos, com o teu comportamento que te denunciava tentando mostrar que foi um feito tão simples, natural, mas tão sincero. Um amor sincero, grande, enorme, colossal. E daí? Eu fiz, e se ele for embora, fica uma tatuagem, cravada na minha pele, como o amor cravado no peito dele. Você disse. Tão natural assim, você fala.
Naquela hora da mensagem, você já havia feito. E você se mostrava toda natural, engraçada. E eu lembro que a mensagem era a letra de uma música que me recuso a dizer qual de tão ruim que era. Foi hilário, e eu te amei, ali, diante daquela mensagem de música ruim. A verdade é que cenas tão marcantes que fazem as pessoas constatarem o amor que sentem, são cenas esporádicas, que no final de suas vidas podem contar quantas vezes aconteceu isso apenas nos dedos de uma só mão, fácil, fácil, de tão poucas que foram. O que pra mim seria muito difícil dizer, numerar, selecionar. Toda hora você me faz pensar e constatar isso: Eu te amo. E eu te amo inúmeras vezes ao dia, eu te amo sempre, e você não me deixa esquecer isso, pelo simples fato de eu sentir que você é parte de mim. Se eu sussurro o seu nome sozinho, sinto que te amo; se eu lembro dos seus olhos concentrados, novamente eu te amo; se eu lembro do seu ressonar, eu lembro que te amo; se eu penso na sua mão grudada na minha sem reclamar do meu suor, eu sinto que te amo; quando você me chama de “meu poeta”, eu morro de te amar, porque eu só quero ser somente seu. E se você beija meu ombro?! Ah! Eu não apenas sinto, mas desejo com todas as minhas forças que nós dois velhinhos você ainda faça isso.
Está tudo quieto, e vem você e de uma maneira súbita e distinta me faz perceber o quanto eu te amo. Em tão pouco tempo eu tenho várias cenas guardadas, que eu te amo, eu te venero, eu te necessito, minha vida. E não é difícil perceber que não foi só o gesto, você se autodeclama, você se faz no próprio amor que eu sinto. É difícil explicar isso. É como quando eu estou deitado, e de olhos fechados eu estico o braço e esbarro no teu corpo, isso me faz tão bem que penso sonolento, ah eu amo! E volto a dormir, ou quando eu finalmente lembro de terminar um poema, leio e vejo que ele não precisa de mais nada, está completo. Você é assim pra mim.
Não sei se algum dia eu te faça sentir isso, de você me olhar e constatar, e pensar olhando pra mim: Nossa, como eu amo esse homem.  E mesmo que isso nunca aconteça, toda a minha vida eu vou querer continuar me esforçando pra tentar te fazer sentir isso alguma vez, o que você faz acontecer em mim, sempre, tão naturalmente.



Curitiba, inverno de 2012.

terça-feira, julho 24, 2012

Coração em cima da mesa

Na partida não há choro, nem adeus,
Coração deixado em cima da mesa,
Como a pertences divididos na hora da separação,
Fui erro teu.

Passam-se dias dentro de um poço de vidro,
Noites entorpecentes a queimar como azia,
É clara a revolta dos destinos,
É claro o sorriso hepático da esperança.

Alguém está rindo por mim,
Cantarolando em teus pensamentos,
Surrupiando tentativas,
Velando por nós dois.

Não há quimera de perdão sequer,
Um resquício de uma vontade ensaiada,
Tua sentença é minha,
Minha impetuosidade é tua.

Neste processo de abstinência,
Teus cabelos enroscam em minha barba,
Teu perfume encontro a passear no corredor,
O andar da moça do 10º andar é teu.

Há um limite em meus pensamentos,
Tem um bloqueio de suspirações malogradas,
Tem uma fina relutância de teu orgulho de mulher,
Eu sei que é, eu sei...

Sempre amanheço no sofá da sala,
Ouço os pássaros em revoada,
Conto mais uma vez os azulejos da cozinha,
Levanto, saio e bato a porta. 

Esqueço as chaves e o coração despedaçado em cima da mesa.

quinta-feira, julho 19, 2012

Talvez fosse eu (Poema resposta).

Talvez ainda não era o momento de o tempo ser nosso.
Talvez não, talvez o tempo era pra ser mesmo breve, Intenso, mas breve;
doloroso, mas com um ar etéreo e agradável.
Talvez a duração de nossas vidas juntas era a mesma de o tempo
de um romance francês dirigido por Jeunet, o qual assistimos tipo
naquelas tardes de frio solitárias. Talvez essa percepção do que
vivemos juntos, um dia nos faça chorar até que as lágrimas se
sequem por si só, fiquemos deitados, incertos, nos perguntando
o porquê não assistimos esse filme antes.
Talvez a certeza que eu estranhava querendo desacreditar saiu fora
dos meus planos e talvez sejamos dois ladrões que roubaram a madrugada
para fazer dela a nossa cama, e o universo conspirou pelo nosso beijo,
mas não sabíamos que esse tal de amor foi para nós dois como  o último
trago de vinho doce que deixou o gosto seco, na boca seca,
de lábios secos, de língua seca, e olhos vagos cheios de traumas
e repletos de versos órfãos, cheios de carência, cheios de tristeza,
cheios de maldade, cheios de saudade, cheios de fome que não sacia,
fome..., que não sacia, fome..., fome que denuncia, fome que tripudia,
 fome que rouba o dia. Talvez a minha alma tenha se alegrado um pouco
e se sentido viva, desejou uma vez ser mais, ter mais, viver mais, amar mais.
Envelhecer... Mais! Mais, muito mais, vários mais muito mais.
Finalmente encarar a roda gigante, de peito erguido e sem esquecer de
prender a respiração na subida.
Olha lá, poeta, abre os olhos, tira os óculos do disfarce,
porque ela não imaginava que também o encontraria e passaria por tudo isso,
nem nessa vida nem na outra vida, nem na sua vida se ela passasse. Sofre.
Ao primeiro instante me parece foi tudo tão cruel, tão sem piedade,
o amor, essa raposa pregando mais uma peça, se lambuzando de
 nossas lágrimas e emoções e pavor e ilusão e desconsertos turbulentos.
Talvez aquelas vezes que eu ficava sem fôlego quando você se aproximava
e permanecia nesse suplício todo o tempo que eu estava ao seu lado,
era sinal de que os tempos vindouros seriam punks.
Sem essa, você sabe: Porque o amor é punk, entendeu?!
Mas é punk do seu jeito. O amor não é democrata, nem de esquerda,
nem socialista ele é, muito menos anarquista, o amor é de centro-direita.
A prova disso está no nosso peito. O amor não pensa nos outros,
quer saber se você o quer, se você o aceita, se você vai saber lidar com ele.
Dane-se você! Dane-se! Talvez eu esteja aqui, de mãos perdidas sem saber o que te dizer,
como menino que quebrou o vaso da sala e precisa confessar seu crime.
Talvez eu seja essa criança inversa aos costumes que não sabe como ser,
Sentir-se parte integrante de um elenco de uma peça infantil mal elaborada,
Talvez eu seja um cachorro pedinte, daqueles magros de viver,
E que te viu e abanou o rabo, caprichou no olhar melancólico, roçou
em tuas pernas para te ganhar, e ver teu sorriso estampado, até esquece
que tá morrendo de fome. Talvez sem você meu tempo pare,
a chuva continue, o sol vá embora.
Talvez eu esqueça você, e me enamore novamente pela Lua, e sinta que
Meu destino é mesmo a olhar de longe sabendo que já a pertenço.
Talvez eu me depare bem velhinho, com uma camisa polo listrada
com o símbolo do Mensa estampado no peito e suspensórios,
de bengala, na biblioteca pública jogando xadrez com algum moleque
e irritado por ele ser lerdo demais para mexer a peça, e você passe,
ainda jovem, linda e reluzente, deixando um rastro de versos
que só eu saberei identificar o sabor e apanharei cada palavra
entornada no chão que deixares ao passar.
Será sim, talvez, que você relembre de mim um dia?
Talvez eu seja mesmo alguém normal que pensa que não é alguém normal,
 que acha que não anda feito alguém normal,
muito menos que sabe lidar com a vida normal, com um lerdo significado normal,
parecer normal, viver normal, amar normal.
Espera ai, amar normal eu não saberia! Talvez um dia a loucura desse momento
te mande um cartão postal, e te faça no futuro relembrar o que para ti
foi tão cheio de significados e no momento presente nada mais faça sentido,
eu penso logo no teu sorriso de canto de boca com aquele respirar forte
pelo nariz, constatando que eu perco em tudo porque:
O doce do beijo dele é mais doce que o doce do doce do beijo meu;
Ele não tem as mãos suadas feito as minhas e aperta sua mão mais forte do que eu;
A sua vontade de viver ao lado e envelhecerem juntos agora é com ele;
Porque a maneira de olhar quando ele fala e o interrompe
para dizer que a boca dele é bonita é mais frequente que quando era comigo.
Talvez eu seja a representatividade de sua imagem de futura mulher dos gatos,
Talvez eu seja a tua sentença do crime que nunca cometeste,
Mas talvez nada que eu escreva faça mais sentido e tu não mais me reconheças,
e isso tudo que registro seja apenas uma fusão da minha real vida e meus poemas.
Talvez a nossa vontade não tenha peso algum,
Porque como eu sempre digo: O amor não liberta ou nos dá escolhas.

Curitiba, inverno de 2012.

sexta-feira, julho 13, 2012

O espelho


Não te atinge o que te mira através do espelho?
Não sei quanto é possível aguentar esse reflexo...
Nem tão pouco a hora que passa pelas tuas costas,
Muito menos a sensação da perda de identidade.

O que o espelho constrói, a minha alma regurgita,
E teu semblante que vejo por entre os anjos,
Sabia que te reconheceria por entre as asas? Sabia?
Da inverossimilhança, testifico teu desapreço,
E isso me afeta e me deixa ruborizado.

Pelo acaso vejo barcos trombarem uns nos outros,
E a confusão se transforma em teu rosto,
As solidões de tufões  aceito de bom grado.

Nas mãos que te rasgaram tuas vestes
E juntaram as pedras amontoadas em cima do muro,
Atiras em meu rosto cada nó de indiferença.

sexta-feira, julho 06, 2012

Isso não é mais um poema meu I


Em verdade, em verdade eu te digo, minha alma, eu sou peça atormentada pelo peso de minha própria existência. E não obstante, também pelo amor. É por isso que eu soo essas palavras gauches, e vivo feito bola de pinball a bater trançado ricocheteando em desatino pelas barreiras das ruas retas de Curitiba.
Ganhei, minha alma, de nascença, uma rosa de pendão derrocado cravada no peito. E desde a minha crença, minha alma, tu te revelaste propriamente cônjuge dessa sina, esse suplício, essa inquietude verborrágica crassa, atemporal, que tomei tenência e finalmente soube para o que eu tinha vindo pousar neste mundo. Mas eu tenho medo, minha alma.
Eu queria, sabe, minha alma, poder acordar numa manhã de inverno, daquelas com o céu límpido e azul que dá gosto, sem nuvem alguma a manchá-lo, com aquele sol que engana, sabe?! E respirar profundamente o ar gelado, sentir meus pulmões usando todo o limite de superação e ocupando o espaço de ar.
Eu queria, minha alma, não sofrer por Ela, não saber que me sustento em saber de mim, por ela. Pensar e deixar de pensar o que faço para agradá-la. Minha alma... eu..., eu..., eu me afundo cada vez mais, e me entrego mesmo com o corpo todo dolorido, e confesso que vezes, esses meus olhos míopes, turvamente contraídos, no obscuro caminham a cuidá-la, a vendo passar, roubando o seu cheiro que por onde ela passa o deixa materializado. Eu queria, minha alma, poder não deixar de almoçar para passar ininterruptas vezes na frente do seu trabalho, só para saber que mesmo que sem ela saber de mim, eu me alegro em saber que perto dela estou um pouco mais.
Tem horas, minha alma, tem horas que meus bolsos ficam pesados, porque cada vez que penso nela, verte uma pedra brilhante de cada olho, e rasga minha pele e fere e sangra a minha íris, e cada uma delas eu tenho dó de descartar, por mais que elas me feriram, eu não sei largar do que me fere, então as guardo nos bolsos. Mas minha alma, esse meu predestinado sofrimento é coisa que se valha?
Há uma corrente que passa um cursivo rio, que assim, é um filete na verdade, que não sei nem onde desemboca, só sei que o nome dela escorre por entre essas águas, é cristalina, eu vejo, minha alma, eu vejo cada letra lá no fundo, são as mesmas cravadas a ferro e fogo na minha língua, e cada desenho que se forma eu sei que é para mim, e tem vez que elas se embaraçam, e eu corro, mas tem pedras no caminho, as chuto, caio, tropeço, minha boca sangra. Vezes mordo a língua, entende?! E a camisa nem tem mais cor definida, de barro, de sangue, de suor, de vinho e dor. A única coisa que predomina, e conseguirias decifrar em meu corpo encoberto dessas vicissitudes, minha alma, seria essa rosa que calha torta no peito meu, mas como a escondo de todas as maneiras, seria difícil me identificares através dela, minha alma. Mas há um modo, minha alma, de saberes de mim, de sobremaneira a não deixar dúvidas, tu podes. Quando na súbita maneira febril, a noite calhar torta por entre as árvores, e o silvo da linha do tempo plainar por sobre o horizonte, e um bardo, em pé, se materializar na tua frente, arqueado de cansaço, trôpego e pobre, estático te cuidando de soslaio, é fácil saberes que sou eu pelo simples fato de, minha alma, reconheceres que este é teu reflexo fora do espelho.