quarta-feira, setembro 12, 2012

Perséfone


Quando a neblina desliza como a um tapete,
O âmbar quase que sólido do teu cheiro
Ciranda as minhas pernas,
Hora a estender-se, hora a retrair-se,
Tempos em tracejo, tempos em revés,
A extasiar-me em tuas curvas.

Fito a tua silhueta na sobra através da vela,
Quer, inquietar-me pelos poros,
Quer, suspirar-te em meus ouvidos,
Envolvendo-me em teus desejos.

Sinto o palor recostar-me à parede,
Tombo como um cerne cortado e velho,
O coração acelerado, sem tempo de respirar;
Estás enfim nas minhas veias.

Os meus olhos surgem cheios de intento,
Surtindo o efeito do vinho, te contemplo,
Invento um caminho por entre as tuas veredas,
Na garoa embriagada dos teus lascivos desejos.

Amo-te, tanto que nem sei como;
É como um rio que vaga ao cálido curso,
Amo-te, tanto que me atordoa,
E atordoado na noite me dano.

Amo-te tanto, que por dentro recolho-me em sonhos
Epicuristas. Desgovernas a minha morada,
E um grito desumano desata-se em chuva,
Amo-te tanto, que me perco em teu juízo.

Amo-te tanto, tal qual uma semente libertina
Filha dos horizontes e dos ventos,
Parte pagã, parte celeste, píncaro suicida;
Amo-te na medida desproporcional à matéria,
Sentindo gota a gota o morrer das horas em tuas pernas.

Amo-te: sem saber para onde eu vou, nem como fico;
Amo-te: na identidade híbrida dos nossos corpos;
Amo-te, queimando em ardente chama que não cessa;
Amo-te sendo servo absoluto. Um beijo em suplício.

Amo-te: com a minha alma a acumpliciar o teu corpo;
Amo-te, e teu desejo é o meu desejo sendo exorcizado,
E a tua voz rouca sai da minha boca transbordada,
E o teu desespero me exaspera uma suspiração rouca.

Amo-te, revelando-me em sete mil dores,
Entre sete mãos espalmadas,
Por sete preçes inacabadas,
Por sete mil amores de ciclos incompletos,
E por sete mil beijos aguardados, faz-me o drama!

Aninhando-me em teu corpo despetalado,
Amo-te. Revelando-me em castos sorrisos,
Amo-te. Consolidando-me em teu regaço nítido,
Amo-te. Então explodo em versos mil de amores.

Amo-te, perdendo-me entre os teus negros cabelos,
Amo-te, lendo-te com as pontas dos meus dedos,
Amo-te embriagado-me nas tuas mãos,
Como a brisa a se enroscar nas folhagens melindradas.

Amo-te, enquanto o teu corpo inibido
Desliza por sobre as nuvens,
Amo-te, a cada peça desvencilhada do teu quebra-cabeça,
Envolto em um círculo dum mar que nunca se acaba.

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