Foi nas espumas do mar que tu nasceste.
Leve, instantânea rosa branca em harmonia
Com os tempos, com os ventos, as sinagogas.
Sóis virgens nascem dos teus seios.
Os
horizontes te contemplam,
Os
dias se atrasam, as noites se esbaldam,
Semideuses
em teu nome pregam palavras de desejo,
Por
ti, deusa silvestre, sorte da minha vida,
Espectros
desejam viver novamente.
Em
tu impera a perfeição,
Como
contornos esculpidos em mármore fino.
Teu
corpo é denso e misterioso labirinto de Creta,
Onde
Teseu enfeitiçado, a eternidade desejaria ficar;
Por
tua tez feiticeira, teu brilho inebriante.
Porque
é uma tentação a cascata de estrelas
Que
caem dos teus cabelos atemporais,
E
a lua ao longe enciumada ao ver-te passar,
Mulher
das estrelas, corpo lânguido ao vento,
Trava
batalhas de brilhos incomparáveis
por
entre as cordilheiras das curvas do teu corpo.
Eu
te assisto e te admiro daqui, ninfa das primaveras,
Como
o marinheiro em deriva a fitar o lampejo do farol,
Imerso
num mar negro, nebuloso e revoluto,
Sereia
contra o vento.
É
dos teus cabelos que sai
O
frescor das manhãs de inverno,
E
o rubor que da tua linda face me atropela,
Roubaste, sei que das maçãs serranas.
És
o anjo bendito que em poder numa das mãos tem o meu julgo,
E
noutra, espada flamejante que cravaste em meu peito,
Cego
de amor sou prisioneiro dos teus astutos redemoinhos,
Vivo
a roubar tua imagem para os meus olhos alimentar.
Eu
renasço para ti, sempre, dia-a-dia,
Beijo
em sonho a tua boca, e assim me alimento,
No
frescor do teu suspiro recomponho-me,
E
nas veredas da tua existência ressuscito.
Como
me desfazer de ti, se minhas forças galgam
Caminhos
que me levam a lampejos de esperanças,
Trilhar
contigo inacabáveis desejos de amores,
Em
gondoleiros que se põem em tardes despertas.
Eu
quero, necessito,
Na
sombra da tua árvore descansar,
E
nas ventanias intransponíveis do teu andar,
Que
me traspassa sem dó nem piedade,
Morrer, a alma presa, feito barco que quer naufragar.