Eu já havia esquecido o quanto isso dói, perturba, te tira o sono, deixa
sem calma, desordena a continuidade da tua respiração, tira a fome,
tira a sede, vontade de ir ao banheiro é somente pra ficar lá, trancado,
sentado no chão frio, falando sem saber o quê, no escuro, para o
escuro, não passando de uma criatura ridícula. Eu não esqueci do que é
passar por isso, e de muito menos do tempo que pode durar. Nunca é pra
sempre, e nunca será, é apenas para durar o tempo necessário, e quanto
menor o tempo de permanência em você, parece que o filho da puta tem
maior proporção e te rasga por dentro, lentamente, paulatinamente, sem
dó, te fode, fode mesmo, e te deixa torto, desconexo, boca seca, um
metro e oitenta e três de escombros, feito um prédio desmoronado. Mas
não lembrava o bastante pra correr quando ele aparecesse na esquina.
Merda, eu fui ao encontro, eu falei oi, eu olhei no fundo dos olhos
dele, eu disse: e ai, vamos ali tomar uma cerveja? A partir de então
você passa a respirar desordenadamente, as mãos suam mais do que o
normal, os bolsos ficam úmidos de acalentá-las. Ele te dá uma prova do
que se poderia ter, mas é como crack, dura apenas um curto tempo, só pra
te deixar com vontade de mais, que isso durasse mais tempo, um minuto
que fosse a mais. É sem esperança, tudo sem atrativos. Parece que as
horas não passam, todo mundo fica com cara de gordura velha, odor de
naftalina, andam feito ratos nas sarjetas, e eu tenho vontade de cuspir
em todas elas, eu tenho, se tenho. Paciência, o que é isso? Não há
saída, nem pra onde correr, somente do 13º andar torna-se tão atrativo
lá embaixo, reler todas as mensagens recebidas, saber que algo tão forte
assim como nasceu, definhou, e num estalar de dedos pontinho verde de
um teclado qualquer estúpido e insensível, vai te transformar em um
homicida de dias bonitos pro resto da tua existência. Amor, sorte dos
infernos, eis-me aqui!
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