sexta-feira, maio 11, 2012

É tarde

Eu já havia esquecido o quanto isso dói, perturba, te tira o sono, deixa sem calma, desordena a continuidade da tua respiração, tira a fome, tira a sede, vontade de ir ao banheiro é somente pra ficar lá, trancado, sentado no chão frio, falando sem saber o quê, no escuro, para o escuro, não passando de uma criatura ridícula. Eu não esqueci do que é passar por isso, e de muito menos do tempo que pode durar. Nunca é pra sempre, e nunca será, é apenas para durar o tempo necessário, e quanto menor o tempo de permanência em você, parece que o filho da puta tem maior proporção e te rasga por dentro, lentamente, paulatinamente, sem dó, te fode, fode mesmo, e te deixa torto, desconexo, boca seca, um metro e oitenta e três de escombros, feito um prédio desmoronado. Mas não lembrava o bastante pra correr quando ele aparecesse na esquina. Merda, eu fui ao encontro, eu falei oi, eu olhei no fundo dos olhos dele, eu disse: e ai, vamos ali tomar uma cerveja? A partir de então você passa a respirar desordenadamente, as mãos suam mais do que o normal, os bolsos ficam úmidos de acalentá-las. Ele te dá uma prova do que se poderia ter, mas é como crack, dura apenas um curto tempo, só pra te deixar com vontade de mais, que isso durasse mais tempo, um minuto que fosse a mais. É sem esperança, tudo sem atrativos. Parece que as horas não passam, todo mundo fica com cara de gordura velha, odor de naftalina, andam feito ratos nas sarjetas, e eu tenho vontade de cuspir em todas elas, eu tenho, se tenho. Paciência, o que é isso? Não há saída, nem pra onde correr, somente do 13º andar torna-se tão atrativo lá embaixo, reler todas as mensagens recebidas, saber que algo tão forte assim como nasceu, definhou, e num estalar de dedos pontinho verde de um teclado qualquer estúpido e insensível, vai te transformar em um homicida de dias bonitos pro resto da tua existência. Amor, sorte dos infernos, eis-me aqui!

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