Mal do Século.
Olha lá, poeta, abre os olhos, tira os óculos do disfarce.
terça-feira, novembro 08, 2022
Morrerei de amores
quarta-feira, outubro 13, 2021
Cântico ao teu corpo
Teu corpo é uma rosa estampada e amparada na beira de um lago,
Fogo ardente e sinuoso, caminho precipitoso, uma fome libertina,
Teu corpo são manhãs de inverno com sol escarlate.
Na ponte, ponta dos pés, navio em costeira, peixe na cordilheira,
Eu louvo teu corpo como a um arrebol em prantos de harmonia,
Paz de sangria, mão suada e cálida na nuca, língua lépida e leve.
As letras são uma infinita aquarela, lago colorido de carpas atrevidas,
Teu corpo tem a paixão de um labirinto, Minotauro e Teseu perdidos,
Teu corpo é uma ponta de lança africana, uma rosa arlequina.
Tem letras esculpidas, ávidas, vívidas, uma escultura renascentista,
Traço o teu corpo e me perco em teu corpo, procuro o teu corpo
Como quem procura especiarias nas ruelas labirínticas de Katmandu.
Mas não cante o pesar do meu encanto, onde falho e torto agride,
queda rôto, passos morosos adentro do túnel onde palavras não existem,
síndrome bravia de uma praia inóspita e selvagem.
Louvo o teu corpo como um amigo cúmplice, um amante astuto incorporado,
Louvo o teu corpo como a uma grande liberdade de pés descalços na areia,
Louvo teu corpo feito pipa no vento que vai bem alto e mergulha sem medo.
Como a um menino enciumado na atenção de coração acelerado,
Louvo teu corpo como o marinheiro aporta e se apaixona pelo farol,
Louvo o teu corpo como se sentisse o mar bater forte dentro de mim.
Teu corpo tem vírgulas que fazem morada nas reticências do meu jardim,
Teu corpo é um querubim dionisíaco por sobre toda a hierarquia angelical,
Um deus nórdico amando uma mortal ante os portões de Valhalla.
terça-feira, agosto 10, 2021
Parabéns, poeta.
No filme Coração Valente, Willian
Wallace foi traído da maneira que nem sequer ele pôde ter alguma reação a não
ser sair dali perdido e desnorteado. Quando eu assisti esse filme, essa cena
sempre foi a que mais me marcou, até hoje. Mas hoje ela toma um sentido tão
enorme e intrínseco e de complacência, que a cena que nunca saiu das minhas fatigadas
memórias hoje tem um sentido muito maior e um sentimento de cumplicidade com o Wallace,
hoje eu consigo sentir de forma condizente o que ele sentiu naquela hora.
No meu aniversário você sempre
quis e se preparava de maneira vocacional, pensava em tudo minuciosamente, cada
detalhe, cada ponto e vírgula, cada hora, minutos e segundos, arquitetava tudo
como o professor de La Casa de Papel para que o plano saísse perfeito, que tudo
se desenvolvesse milimetricamente na ordem e tempo certo, nada poderia sair dos
trilhos, nada poderia dar errado ou tomar outro caminho... Você pensava muito
tempo antes, se programava de uma maneira monumental, tudo, tudo era feito com
maestria, até juntava moedas para o presente, que esforço lindo, e era sempre tudo excepcional, acima de minhas expectativas, o local nem se fala, o momento, as palavras, até
mesmo o disfarce de que não tinha programado nada, a noite seria em casa, de boas, nem as cartas e
juras eternas de sempre, nada eu esperava tão ansioso, porque eu sempre ficava tranquilo, vindo de você seria sempre algo inesperado... Era a maneira perfeita de dar o presente e a
expectativa de que o brilho em meus olhos fosse de satisfação e alegria, e
sempre foi alcançado, acredite em mim. Os presentes. O momento. Tudo acontecia da
melhor forma possível, nada poderia dar tão certo por tanta dedicação e
planejamento, era o mínimo, e eu pensava: como ela é perfeita nesses lances de
fazer alguém se sentir tão especial. E foi assim até o último presente,
arquitetou, planejou, se dedicou e colocou em prática todas as artimanhas
possíveis, hoje vejo que ainda mais dessa última vez. Mas como diria Sherlock
Holmes, não existe crime perfeito, que na verdade estou dizendo isso mas creio
que ele nunca na verdade falou isso, mas quero imaginar que sim. Mas assim, você
conseguiu me dar o maior presente, é bom registrar que é o MAIOR e não o
melhor. Enfim, você me deu o maior
presente que eu poderia receber, o presente que marcaria minhas lembranças pelo
resto da minha torta vida, e disso eu tenho plena e absoluta certeza que por mais que
lá na frente eu não lembre de uma forma tão intensa, mas sempre lembrarei desse
seu presente, porque você entre todas as pessoas foi a que conseguiu essa
proeza e isso posso estar dizendo agora mesmo pelo momento e sentimentos que
estou vivendo, exageros de poetas, claro, mas sim, até o presente momento você foi a pessoa que melhor me atingiu, foi certeira. Mas eu acho que você de certa forma
sempre quis me afetar de uma maneira sempre marcante, mostrar para mim que
poderia e conseguiria me acertar bem no alvo, você acertou, e fiquei destruído
por dentro, sem ação, sem respirar, sem saber até mesmo que eu estava vivo e
aquilo tudo era sim real, e dizem que nos últimos segundos quando alguém leva
um tiro, o cérebro ainda permanece consciente e você pode ainda ouvir algo... e
eu ouvi e foi o final, eu vi o seu desespero não só de ser descoberta, mas
desesperada com a chance de perder aquele que foi o seu motivo de me dar o MAIOR
presente, e ainda disse: “é que eu gosto dele” e eu ouvi isso, e essa sua frase
entrou como a lâmina quente enfiada lentamente olhando nos olhos. Dessa vez creio que
o presente era para ficar em oculto, ser entregue da maneira que eu nem sequer
percebesse e nunca haveria de descobri-lo. Mas é um presente, então porque eu
não poderia descobrir?! Hum, a vida não permitiu que fosse assim... Ela foi lá
e disse: mas como?! Um presente que se prepara, mas não o entrega e nem sequer a
pessoa ficará sabendo? Sim, você queria que essa surpresa que me tomou de
arroubo e me deixou no chão sem ação alguma com a bunda doendo, não fosse por
mim descoberta, muito menos por ninguém mais, era sua e somente sua, o seu
plano triunfal que iria ser comemorado sempre às escondidas consigo mesma,
diante do espelho, ou não. Quanto drama, né? Poderia ser também o seu segredo
mais sombrio, que nunca iria ser revelado para ninguém, até o fim. Mas dessa
vez independente de presentes, e como falei ali em cima, não existem crimes
perfeitos, e dessa forma o que realmente quero falar é da imensa surpresa antecipada
que eu tive nesse meu aniversário. Você conseguiu de maneira magistral me
marcar da maior forma possível que alguém sequer poderia imaginar, algo de fato megalomaníaco, faraônico. Mas dessa
vez a surpresa quem teve foi você. E teu arrependimento creio eu, é na verdade
apenas de eu ter descoberto, a máscara caiu, não só para mim mas para todo
mundo que tinha uma imagem boa sobre você.
Fiquei marcado sim, fiquei surpreso sim, o presente foi enorme, gigantesco, e te digo de uma forma muito sincera, creio que e torço realmente que não cruze mais com alguém com essa destreza que você possui. O presente foi seu. Mas quem te surpreendeu fui eu. Parabéns para mim.
Feliz aniversário para o
poeta.
quarta-feira, fevereiro 14, 2018
Qual de nós dois?
domingo, outubro 22, 2017
Quatro por um
enquanto eu rondava no corredor da morte
Partindo o para-brisa do meu carro
Chapado num 4x1.
Eu vi tua sede de mim, um tsunami virar uma marola
Onde as ondas batiam freneticamente
Num toque irrefutável, intragável,
Eu vi Maomé pregando sobre as pedras de Gizé,
Envolta, as hienas declamando poemas de Mallarmé.
Tudo, tudo isso num 4x1.
Eu vi tua boca no teto do meu quarto
A penumbra a ressaltar o susto em tua voz
Eu vi o desejo incessante, nossas bocas
Enquanto nossos pares e ímpares resultaram
Eu vi o arcar das tuas ancas desinibidas
A loucura a crepitar a dormência de um amor descabido
A tudo faz disso sentido, minha boca na rua
teus cachos alaranjados a beijar minha sombra
Chapados de 4x1.
Eu vi a serena menina tragar a minha alma
Enquanto meus olhos de tocha te clamava
Astúcia é o teu nome
Eu vi teu sôfrego lamento,
Eu vi tuas agruras maldizer o meu nome,
Eu vi nossa chácara abrir os portões abolidos
onde encantados gatos brincavam, chapados num 4x1.
Impotente, resmungando o teu nome
enquanto as Valkírias traíam minha Messalina.
Tudo isso nas nuvens de um 4x1.
E dentro dela eu habitar
Castigo do teu sono inimigo
Ao silêncio das hordas me rendi
Tudo isso num 4x1.
Eu vi o despedaçar do céu
A relva dormir por sobre a solidão dos astros
Eu vi você sonhar comigo casar
E o nosso amor a espiar cada gesto de arrependimento
Eu vi um cacto sem espinhos a chorar no nosso quarto.
Eu vi a solidão ganhar do amor
Eu vi a incompreensão manter vigília
E nossas almas se distanciarem
Eu vi você soletrar o meu nome... o desconhecendo.