domingo, agosto 07, 2016

Pecado

Eu me entreguei, e me despi de todas as armaduras,
Retirei os laços e os traços de um resquício de guerra.
As argolas dos tornozelos e as algemas penduradas do coração.
Desfaleceu-se e o ressuscitei, desfibrilador reestabilizado? Não.

Retira-te armas... retira-te colete, peça de armadura... dura.
O que resta ainda senão os nós travados e colados ao corpo? Oco.
A maior das trancas está entre o coração e a cabeça... Faleça.
E o que eu procuro não está entre os montes de peças de proteção. Vão.

Peças entre peças, sobras entre sobras, dobras entre dobras, joelhos. Espelhos.
Quebram-se as correntes e prometo não me arrepender. Render.
Desatar a fé, trocar os pés e virar o pescoço até doer. Arrepender.
Sortilégio, prece inversa, mãos juntas rezando o credo.  Lerdo.

Raspo a cabeça, tiro a barba, as roupas e perambulo nu por entre o corredor. Torpor.
São tantas lembranças, lança de ponta cega castiga pele enrugada do frio... Estio.
E tuas lágrimas enxugadas no punho do cardigã me gritam o suplício... Difícil.
Cada ajeitar teu do pé no pedal da bicicleta é um grito dentro de mim... Enfim.

Meu Deus, meu Deus! Por que não me alertas-te? Desgaste.
Meu Deus, meu Deus! Por que não me impediste? Resiste.
Meu Deus, meu Deus, cadê a sombra da resposta de tantas lamúrias? Injúrias.
Meu Deus, meu Deus, por que pecaste? E então me firo ao saber que esse eu sou. Restou.

A minha solidão é um poema pecado que me transgride o papel. Labéu.
E as palavras se confundem com a fumaça que brota do pulmão. Em vão.
Tua doença é o amor que se casou com a minha... Rinha.
Não vejo nada além da noite que se rasga em frustrações. Decepções.

Minha alma uiva por dentro, o suplício de um sonho malogrado. Desagrado.
Metade de mim é loucura a outra metade também... Diz você. Crê?
E quando paras na ponta daquela rua, não sei eu te impedir... Sumir.
E te perco além da névoa entre o sangue dos lábios que me castiga e grita. Não rima.

Por que o amor é esse tal de quem me falam... Não, não falam, não sei. Errei.
Morro de desejos. Morro de tropeços, e me lastimo de te deixar partir. Sumir.
Vai ali o amor que tanto sonhei e desejei, até sumir de mim tão tarde. Covarde.
Vai ali o sonho de uma vida inteira, até branquear a barba do bardo. Ardo.

Não posso, não posso tentar ser feliz lá fora. Agora.
Não sei, não sei dizer que não andar ao seu lado é alegria. Tardia.
Não posso, não posso esquecer de que prometi voltar. Cortar.
Desejo, desejo mais do que tudo o teu cheiro de domingo de manhã. Afã.

Despido de regras, despido de juras, despido de mim mesmo. A esmo.
Sinto-me inválido e velho de pernas travadas em uma descida. À vida.
Tu me ensinaste a me libertar, e escuto a tua voz sofrida arfar. Chorar.
Sou audaz, não amoleço as súplicas jogadas em cima do tirano. Mas amo.

Dividido entre a razão e o sentir, me desloco do corpo. Torço.
Mesmo sabendo que tu nunca mais vais voltar, persisto. Resisto.
Quero uma nova vida, mas que me traga você, minha Vida. Guarida.
E tudo passa ante aos meus olhos míopes desgastados. Malfadados.

Depois de tudo o que eu já andei não sei se num futuro te encontrarei.  Falhei.
Penso. Terá outro o meu lugar a te acalentar o peito cicatrizado? Irado.
Essa é a minha sorte, minha sina ou minha redenção ao sofrimento? Intento.
E eu serei a tua pior lembrança, a tua pior dor, o teu pior desgosto e saudade. Metade.

Abaixo a cabeça e deixo tudo girar em volta dos meus calcanhares. Pilares.
Sem armaduras, sem armas e sem a cela que protegia o meu coração. Solidão.
Talvez eu ache alguma sorte que faça eu me sentir melhor. Pior.
As tatuagens desbotam, claro somente o coração do antebraço que grita o teu nome. Fome.

Não tenho mais nada... nada que me valha um trago pouco, Trajano só vejo o vazio,
E uma morada do que já foi nosso... Uma mesa de bar, uma história pra contar. Matar.
E ainda sou aquela criança que escrevia versinhos nas paredes do colégio... Sacrilégio.
Pensar que um dia te inventei em poemas... Agora esse é o meu lema, meu tema. Dilema.

Não há vazio em mim, tudo transborda, tudo transpassa, tudo arregaça. Não passa.
É o teu cheiro, a tua boca, o teu cabelo, os teus seios, o teu balbuciar gemido... Transgrido.
Lá vou eu de novo como um tolo procurar o desconsolo que não é você a dizer. Sofrer.
Minha cara, ainda muito vou te escrever, e te dizer que isso tudo é pecado. Acabo.


Vou escrever mais um soneto, estampá-lo em branco e preto para maltratar nosso coração. 

quinta-feira, abril 28, 2016

Mortal Loucura


Testemunhei a tensa densidade rígida desse corpo.
Por tão a esquiva da lágrima, menina...
Na embaçada retina, vi.
Soprei o gosto no teu ventre.

Teu adeus foi um pedido de remissão,
Uma tática demissão do teu cargo,
Perene, leve e sinuosa,
Adeus mais tarde.

“Deseja-me sorte”... Mas tens a sorte dos loucos,
Dos despudorados e ventríloquos dos bonecos do amor,
Dos mergulhadores acrobatas de cimos suicidas,
Dos corações kamikazes calejados de sofreguidão e clausura.

Teu ar tropeçando no tempo do telefone saiu à francesa,
Porque ser feliz de dar dó é o teu destino,
O pinhão te espera na panela a esquentar...
Quem sabe te encontro por aí e tua alegria nem me verá passar,
E eu destemido, pulso na língua te digo: Vai.

Eu preciso ir também para onde quer que eu seja,
A desembocar numa mesa de bar tocando FM barata,
Cerveja quente de ornamento, na ponta um cravo,
Uma caneta chorosa gritando pra mim: Se foi... vai!

Não dá mais eu, não dá mais você,
Não dá mais esse trago pouco rouco louco de ânsias,
Não dá mais essa música repetitiva de versos fáceis,
Não dá mais essa luta de pivetes na beira do sinal.

Porque o troco da esmola é o que se pedia,
E o abraço pedinte com beijo na testa é o que se teria,
E a presença muda no telefone não mais bastaria,
E eu te digo: Vai. 

Vais porque o tempo há de me manter gelado,
Barba prata hirsuta, marca da testa revelada em meu piado,
Dos olhos flagelos de um rei sem um cavalo,
A mão pedinte de dó sem dó, coração, um condenado.

Enterra... e vai!





quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Eu não sei disfarçar a tristeza.



Eu não sei disfarçar a tristeza,
Eu não sei estampar alegria,
Sou um péssimo ator,
Não consigo, eu tento, mas não consigo.

Nessas horas não sei ser divertido e engraçado,
Ter um papo legal e interessante,
Trocar olhares, conhecer e fazer “novos amigos”,
E dizer: Venha, aproxime-se, eu sei ser legal.
Não sei disfarçar a dor que alguns só a revelam na hora de deitar.

No escuro revelam-se as lágrimas, rancores, arrependimentos,
No escuro revelam-se as desculpas e a procura de se fazer culpa,
No escuro se concretiza a dor de ser novamente uma metade afoita,
No escuro tudo pode, ser você, não sorrir, e se cansar de viver.

Eu sei.
Você é carente e isso te motiva, te dá forças e até novas alegrias.
Pensar em novas paixões até durante a tentativa frustrada de me ligar,
E virá uma paixão que te tirará do destino de ser a mulher dos gatos.

Damn...

Eu vou tentar juro que vou tentar ser assim como você.
Eu vou tentar juro que vou tentar seguir assim como você.
Eu vou tentar juro que vou tentar ser alegre pra valer,
Eu vou tentar juro que vou tentar a nossa história esquecer.

Minha ruga em riste no meio da testa me condena,
Teu nome lá, estampado em todas as letras.

Eu tento, mas eu sou muito mau ator,
E nessa hora os meus grandes óculos não me escondem,
É mentira o riso lerdo, e todo mundo sabe, todo mundo percebe.

E eu que num breve horizonte perdulário,
Tenho medo de fechar os meus olhos e pensar em você,
Um desconhecido beijo pode no curso balbuciar o seu nome,
Mas eu vou tentar.

Eu vou tentar, juro que vou tentar,

Mas como na Dialética, Vinícius disse: “... é que eu sou triste”.

terça-feira, fevereiro 23, 2016

I’m tired of being a man,



Sim, cansei de ser um homem.
Cansei, assim... dessa forma inexplicável,
Dessa forma indubitavelmente pesarosa...
Simplesmente do nada aconteceu.

Que cantem as pedras e se desloquem dos seus limos
porque eu cansei de ser um homem.

(Eu bem que poderia ser uma pedra, agora)

Cansei dessa forma, de ser uma forma, de ter uma forma,
Cansei, ainda mais de ser um dia alguém que já amou... e fracassou.
Cansei de ser... ser, existir, agir, respirar, ver... sentir.
Cansei de lembrar e de tentar esquecer.

(Cansei de não saber me comportar diante do amor)

Cansei de ter razões, cansei de ter ideias, cansei de ter sentimentos,
Que ardem, que ferem, confundem, que destoam minha caminhada,
Cansei de ser destemido e realmente me sinto combalido.

Cansei de ser um nome, de ter um nome.

(Enquanto olho para esse poema eu me canso novamente)

Cansei de ser um coração,
Que bombeia esse travo gosto acre e tenso nas minhas veias.

(Eu preciso aceitar e aprender a me tornar esquecido)

Despachado e despido.

Travem meus dias, contem meus segredos,
Expulsem-me dos meus sonhos e proclamem aos quatro quantos:
Ele cansou. Está impotente!

Indubitavelmente declararão: covarde, fraco!

Mas eu cansei, até mesmo de ouvir e ouvi-los.

Eu só cansei de ser eu, me deem outra forma
mesmo que seja para novamente errar.

Porque eu simplesmente cansei de ser um homem.