segunda-feira, dezembro 29, 2014

Quando meu amor está comigo

Para Cummings.

Quando meu amor está comigo
é como música que o vento traz do litoral
e as árvores singelas e duras
se sensibilizam e danças incansavelmente.

Quando meu amor está comigo
meus poros transpiram um maravilhoso odor
do pensamento dela
só por ela.

Deviam ver todos quando meu amor está comigo.

Quando meu amor está comigo
me sinto leve e sonhador
meu pulso baixa e toca em um acorde diminuto
intransponível meu sangue corre absorto em transe veloz.

Quando meu amor está comigo
mergulho nos sonhos e os mares incandescentes
sob o luar trovador esvaziam-se da mihha angústia
de polaridade bucólica.

Quando meu amor está comigo
estoico permaneço no seu corpo
como uma pluma breve sonha na asa de um pássaro.

Quando meu amor está comigo
azul é azul
verde é verde
amarelo é amarelo
e laranja é o seu gosto.

Quando meu amor está comigo
vem ter-me comigo a ternura do seu firmamento
a lógica desaparece e se faz a exatidão em seu veneno

seu beijo entorna minha alma
esbarra em meu padecimento...

seu beijo me assassina lentamente.

sábado, dezembro 20, 2014

Despojos

Caem as tuas vestes de semblante amargurado.
Teu corpo, pêndulo desestruturado,
Mão de meu braço, pena do meu corpo,
Lágrimas abafadas de desgosto.

Submersos entre o fim e o começo,
A solidão aflita segue pelo estreito,
Na dádiva de um tormento imposto
Do pecado nublado, teu a contragosto.

Bebe o vinho, fuma e inala a discórdia...
O bem mais precioso é de outrora a mixórdia,
Às costas, dou-te a cabana do pensamento,
Soberba na ocasião da angústia do firmamento.

Dói em mim tua cor azul opaca e vencida,
Tua febre de mim, estrela decaída,
Marca de meu rosto teu rancor dissoluto,
Nosso amor guerreiro persiste astuto.

Vence mais uma batalha pelos flancos,
Desisto, desiste, conflito nos barrancos,
Espadas e vestes de guerra vencida,
Teus sonhos, minha comoção combalida.

Lutar, lutar, que importa vencer?
Suar, juntar destroços, é fácil dizer,
Amar, escurecer, arder, para depois impor,
Revolta, odiar a própria alma, excomungar o amor.

Os despojos desta guerra invencível,
São cacos de tormenta irascível,
São perdas e danos da fartura amanhecida,
São idas e vindas, solidão suada e comprimida.

As mãos, sustentáculos marcados na testa,
Nos ombros, o peso da injúria funesta,
No peito, bigorna em ferrugem decide
aliviar na língua vingança. Revide.

Declara-se fulgente e abatido teu querer fugaz,
A insigne assinatura lavrada do teu corpo mordaz,
Meu corpo trêmulo, abatido, te faz a jura repetida,
Na tua boca me misturo, te sorvo, te faço arrependida. 

Acordo de paz temporário, somente um instante
para nos amarmos em fúria. Teu corpo. Azul brilhante.
A fome da tua áurea incandescida é meu deleite,
Tomo-te por inteira... até o oco dos teus ossos.