terça-feira, maio 21, 2013

Ridículo

Sinceramente, eu me sinto ridículo, confesso. Isso tudo que sentimos e acontece entre nós faz eu me sentir ridículo, mas também eu te olho e te vejo: ridícula. Somos dois ridículos, o nosso mundo é ridículo de céu ridículo, de montanhas íngremes e ridículas, nuvens, árvores, rosas, e gatinho laranja. Ridículos. Nossa estante de livros é ridícula, meus poemas são ridículos, teus textos são mais ridículos ainda. A lua e as estrelas, enfim, nosso universo paralelo é todo ridículo. Nós dois somos dois ridículos à parte de tudo que se pode dizer que seja ridículo mesmo, impares. Sabe aquela menina indie? Tenho certeza que você é bem mais ridícula do que ela poderia ser. Sabe aquele cara bonitão de piercing no septo e tatuagem clichê no antebraço? -- Sou bem mais ridículo do que ele, vai por mim, eu sou. – acredite.
O ridículo impera em nossas veias, em nossa alma, em nossas cabeças “avoadas”, -- tá bom, a minha é muito mais; nas tuas mãos e boca de menina, e o teus olhos?! É sério..., é muito ridículo! Ridículo, ridículo, ridículo, e qualquer coisa que eu pense sobre nós dois é sempre ridículo, não tem para onde fugir, está em nós. Sinceramente, acho que deveríamos colocar uma plaquinha de madeira na frente da nossa casa, talhado: “Casa do casal ridículo”.  Porque somos, essa é a verdade! Aceite, honey! Somos dois ridículos e provo: quando andamos de mãos dadas no meio da rua e quando você aperta forte minha mão com aquele sorriso na boca e nos olhos, é ridículo! Quando eu aperto a minha mão suada contra a tua, mais ridículo ainda. E quando eu passo a minha aliança na tua, e aquele barulhinho te faz sorrir tímida e com olhar de criança?! Ridícula. Somos dois ridículos quando nos olhamos sem reparar que o mundo gira lá fora, somos dois ridículos quando eu suspiro trêmulo e digo que te amo demais, somos dois ridículos quando você franze a testa aperta os olhos e me diz que eu sou a tua vida! E eu sou mais ridículo porque quando ouço você dizer isso, meus olhos lacrimejam. Ah, que ridículo que nós somos! Poderíamos sair na capa de uma revista qualquer: O casal ridículo do ano! Devia ter nossa foto nos dicionários como exemplo de o que é ser ridículo. E eu sou tão ridículo ao ponto de escrever um texto como esse, ridículo. Você certamente o lerá e pensará: esse meu marido é muito ridículo... tsc, tsc, tsc.
Eu te vejo, eu te sinto, eu te penso, eu te desejo, necessito, tudo de uma forma abrupta e ridícula, como eu jamais pensei em sentir, sei lá..., nem sabia que poderia existir essa maneira tão ridícula de ver e sentir isso tudo que nós sentimos. Essa forma de não saber quem é quem, um mistura de fluxos, medos, sonhos desejos e  reverberações do in(i)maginável. Desejar uma pessoa assim deveria ser crime, pois é muito ridículo. Meu Deus, que ridículo tudo isso! Mas eu não me sinto ridículo de sentir isso tão ridículo assim desse jeito e pensar no que os outros irão achar, eu sei que você também não dá a mínima para os outros, é por isso que somos dois ridículos que vivem ridicularmente felizes. O velho e a moça. Ridículos.
Mas eu acho, enfim, que todas as pessoas que não se sentem assim, ridículas, ou que não buscam verdadeiramente no coração serem ridículas é que são realmente ridículas. Quem nunca escreveu nada ridículo num Post It e entregou em segredo ou falou para a pessoa amada algo ridículo e que isso é o que o faz feliz, é genuinamente ridículo. Quem nunca escutou uma música ridícula e quis cantarolar quando vê quem ama, esse sim é ridículo, quem nunca assistiu um filme água-com-açúcar e chorou e no final deu um beijo molhado de lágrimas no rosto de quem ama, é que é puramente ridículo. O amor é ridículo, eu sou ridículo e você é ridícula.
 E daí? Daí que somos dois ridículos e não nos envergonhamos disso, somos privilegiados, concorda?! Serei ridículo com muito orgulho enquanto tiver você ao meu lado, velhinho de suspensórios, barba branca e passo moroso. Ridículo. Vou publicar livros e mais livros de poemas assumindo a minha ridicularidade. Picharei nos muros: O ridículo que é importante, porra! Lerei em praça pública Pessoa e seu texto ridículo.
Está bem, terminarei este texto agora, porque você já deve estar de saco cheio de ver o quanto ele e eu somos tão ridículos. À parte de todos os ridículos e devotos do amor que existem no mundo assim como nós dois, os outros é que são ridicularmente ridículos.

segunda-feira, maio 06, 2013

Passionata difusa.


Eu poderia te escrever o mais lindo poema de ser lido,
E este, ser declamado por bocas transloucas em palanques ou mesas de bar, nas esquinas, pichado, riscado pelas muretas, por grogues e loucos afoitos que só sabem dizer que só querem amar.

Eu poderia te escrever o mais lindo poema de ser lido,
banido de casas de família, excomungado das igrejas, venerado pelos descrentes, bajulado por iconoclastas, invejado e suspirado por transgressoras meninas hardcoreanas sonhadoras detentoras de corpos bandidos despidos.

Eu poderia te escrever o mais lindo poema de ser lido,
Compor, solipsificar teu nome em meus poros, e pregá-lo em porta de faculdades, apostatá-lo em altares de capelas, impregnar mentes de garotinhos cafajestes indecentes a seduzir menininhas no banheiro na hora do recreio.

Eu poderia te escrever o mais lindo poema de ser vivido,
Nos becos dos portos, nos úmidos varais cheios de roupas íntimas que tentam esquecer a indecência do amor profano, e disseminá-lo nos gemidos das ruas cafetinas que insistem em me dizer dos teus olhos de mel, passionata difusa nos umbrais.

Eu sei, eu o sei, se sei... bem sei:
Eu poderia te inventar o mais lindo poema de ser lido,
Só para te dar, eu. Só para te ver chorar, eu. Só para te ver sentir e ranger os dentes, eu.

Só para te ver usurpar sinonímias castas e arredias, o semblante mudar, e tua falar tremular na ponta precipício da tua língua, eu.
Só para te ver se despir, e se vestir, se nutrir de versos incompletos, e repletos de nobres cacoetes, eu.
E te ver despida, frágil, um inocente coelhinho felpudo desamparado pela mamãe, encurralado por um perverso lobo faminto, eu.

Deus do céu...
Eu acho que deveria te escrever o mais lindo poema de ser lido!
Eu bem sei que não o escrevi, mas eu sou poeta e você também é louca..., e continuaremos a tentar, e nós nos amamos, eu te amo, em alvoroço, bem louco.

Se eu ainda não te toco, verdadeiramente, sou teu cão-guia cego e manco, caneta pérfida, tinta borrada,
Mas sim, bem que eu queria poder te escrever o mais lindo poema nesse dia.

Na falta, toma esse borrão coração que rouco se prostra a teus pés. Então.