Não
há mensura que o faça. Não há.
Que
eu possa pensar e definir quando tu passas. Não há.
Que
eu porte e suporte nos ombros, tamanha amplitude. Não há.
Não
há nada que esse sujeito na tua frente mais sentir te faça. Não há.
Não
há desgasto que o lace e o dome. Não há.
Não
a ternura nem a precisão de uma rosa que o ultrapasse. Não há.
Não
há beleza de cisne negro em quadro que o valha. Não há.
Nada
o compra, nada o seduz. A não ser o teu olhar. Sim, há.
Eu
tento falar, não tardo a fracassar. Ardo não saber o que te dizer. Não há.
Não
há medida, nem spat que me console.
Não há.
Regozijas-te
em apenas o perceber, porque da medida te dizer. Não há.
Não
há, nem que tu te assumas senhora da jornada de Dante,
E
nem junto a Beatrice no lácteo
paraíso busques conselhos. Não há.
Somente
olha nos meus olhos e na minha testa franzida,
Olha
no meu rosto decaído de rugas, café, de fumo e conhaque,
Percebas
os meus braços pêndulos absortos perdidos no vácuo,
Somente
sinta meu balbuciar perdido em teus olhos.
Veja
só, meu amor, entra no labirinto dos meus versos.
Olha
lá ao longe aquele velho com um livro nas mãos,
Sentado
embaixo de uma árvore ressequida e sem folhas,
Vai
lá, meu amor, e abre o peito dele e sussurra o teu nome.
E
verás um mar infinito de palavras que o velho tenta pescar,
E
no mar adentro se transcende palavras que se perdem. Não há.
Nas
rochas, porte altivo e draconiano, estará lá,
Esse
mar de amor, a castigar as rochas a rebater e dizer: Não há!
Tu
verás que nem mesmo essa tristeza que neste velho é peculiar,
E
essa disritmia calcificada subjugada amarescente no beijo desta boca,
É
provável te dizer o que se sabe mas não se mede. Não há.
Não
há o que dizer e poder te ensinar. Não há.
Somente
prove e se embebede no sumo de minha queixa,
Somente
se perca e se desvencilhe de todo o mal que te abomina,
E
deixa-te te levar ao olho do furacão de nosso filme,
E
deixa-te se permitir se jogar das falésias do nosso destino.
Desse
nosso encontro com gosto de lágrima caída dos meus olhos em tua boca.
Desse
fervor prolongado de sede do meu e teu corpo a tremeluzir,
Desse
estupor prolongado, febre terçã de olhos de mel amendoados,
Dizer
o que sinto, é querer me matar para a alma castigar. Não há.
Porque,
meu bem, aferir e te dizer o quanto te amo, é loucura, sandice pueril.
Não
há estado febril mais desatado. Não há.
Não
há vontade mais louca que essa doençavocê de me valer sorumbático,
E
tudo isso eu penso, na tua frente, quando passas, eu estático.
Não
há palavras ou força misteriosa de mil poetas para me valer,
Dizer-te,
é derrota antecipada, suicídio, de juiz o amor. Não há.
E
nessa sangria desatada, nessa presa e interminável fugalaça,
Pergunto,
meu amor: Há lembrança maltrapilha e ressurgida
que
te baste e te esconda o que eu tenho
mesmo que falho para te contar?
Eu
mesmo respondo: Não. Não há!