Para Tatiano Maviton.
Vinte anos e minhas rugas
rugas de preocupar-me
inúteis rugas de pensar
pensar à custa de nada
Este o momento da primeira morte
quando o mundo real bate à porta
bate, clama e arrasta para o peso dele
como se fossemos meros escravos
e depois, aos trinta, nossa segunda morte
quando as rugas tomam o pálido rosto
rugas de esforços; dos dias em que choramos
dos dias que nos desolamos
rugas do trabalho, da vida mundana
rugas de cigarros pelos cafés
e rugas de um rosto franzido
em busca da métrica ideal
morremos aos trinta também, já é certo.
Mas também aos sessenta,
quando já estamos cansados
e a cadeira pesa nossa aposentadoria
inúteis, ali, todos nós, o mesmo triste fim
uns instruem netos, outros nem isso.
pelo menos há tempo para ler
ou tossir nossas mazelas com as pílulas
que nos medicam.
paramos com o cigarro,
pois já não nos faz bem
paramos com a bebida,
porque o fígado pede
paramos com os cafés,
pois nossos amigos já foram.
esperamos o fim do mundo,
esperamos a salvação de um divino
mas esquecemo-nos
o mundo já findou
e nós, neste limbo estamos
morrendo a cada folha
de um poema escrito
morrendo a cada palavra
que tiramos do peito
morrendo aos vinte,
aos vinte e cinco,
aos sessenta
aos trinta. Morrendo.
Morrendo como já fizeram tantos outros
Tantos sonhadores como nós.
E é por isso que eu digo
escritores, poetas: já nascemos mortos.
Francis Beheregaray.
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