Quem vem caminhar por sobre as minhas pálpebras
Onde melancólicas orquídeas estão a brincar?
Desafio a dizer. Quem vem lá?
Mergulhar em meu poço de tristes amálgamas.
Este ser intransigente e sem pudor,
Quem é? Quem vem lá?
Que respira por mim e arremata minha língua,
Adentra e toma minha calma sem pedir, por favor?
Quem é que quer dominar a minha mente,
E que vem na calada das horas serenas
Embebedar-me. Quem vem lá?
Vens dominar minha perdida lua,
Onde almas adormecidas estão a sonhar?
Que ser supremo estranho arquitetou invisível
Tuas vestes e depôs a clemência?
Fez-te insaciável e sem decoro!
E dos teus olhos dimensões implausíveis.
Tigre, tigre, tigre,
Máquina de algoz simetria,
Guerreiro de porte altivo e perspicaz,
Armas natas forjadas em grilhões de desespero,
E o coração é pedra de moinho.
...
E tem esse traço de brilho que me olha nos olhos;
Tem vez que sinto nariz com nariz;
Hálito no meu hálito.
Eu, presa do medo.
Fero domínio,
Em quais alcovas tu descansas?
Em quais ciprestes tu te escondes?
Diz-me a colina onde guardas os teus segredos,
Por qual mordaz semblante tu te tomas?
Quantos homens fiéis nasceram das tuas garras?
Com os corações já esfacelados a jorrar tua vitória,
Esmagaste-os, um a um com imensurável alegria,
Sentindo o gosto prensado por entre tuas gargalhadas.
Tigre, tigre, tigre,
Tuas espáduas exclamam
e intercalam-se sorrateiras,
Num movimento cúmplice e milimétrico,
E eis-me aqui empunhando a tua bandeira.
Tigre, tigre, tigre,
O teu natural disfarce,
Do teu sem igual compasso,
Lanças que afiadas esperam se fartar
Em músculos defraudados.
Tigre, tigre, tigre,
Minha alma que tu visitas,
No ocaso de inevitável destino,
Mistura-se por entre lágrimas variantes,
Que é desperta quando a tua calda flameja.
Eu, esse espelho, essa imagem...
Essa prata que me oxida pelos cantos,
Deflagra o que me traspassa e não termina,
Revela dentro de mim o que me derrota.
Lá ao longe, a rodear meu coração,
Tu, fero domínio, ao meu encontro,
Cavalgando pelo meu mar,
Caçando minhas angústias.
E nesse mistério em que me calho torto,
Revela-se a correr por entre mundos,
Anunciando de sobressalto a chegada,
Um bardo perdido cavalgando com tal fera.
E mesmo nesta hora que me dou por vencido,
Interrogo, ainda, no presságio do meu cárcere:
Quem vem lá se apoderar da minha dor?
Bardo perdido diz “Eu sou o amante”,
Tigre domínio proclama “Eu sou o amor”.
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