terça-feira, agosto 10, 2021

Parabéns, poeta.

 

No filme Coração Valente, Willian Wallace foi traído da maneira que nem sequer ele pôde ter alguma reação a não ser sair dali perdido e desnorteado. Quando eu assisti esse filme, essa cena sempre foi a que mais me marcou, até hoje. Mas hoje ela toma um sentido tão enorme e intrínseco e de complacência, que a cena que nunca saiu das minhas fatigadas memórias hoje tem um sentido muito maior e um sentimento de cumplicidade com o Wallace, hoje eu consigo sentir de forma condizente o que ele sentiu naquela hora.

No meu aniversário você sempre quis e se preparava de maneira vocacional, pensava em tudo minuciosamente, cada detalhe, cada ponto e vírgula, cada hora, minutos e segundos, arquitetava tudo como o professor de La Casa de Papel para que o plano saísse perfeito, que tudo se desenvolvesse milimetricamente na ordem e tempo certo, nada poderia sair dos trilhos, nada poderia dar errado ou tomar outro caminho... Você pensava muito tempo antes, se programava de uma maneira monumental, tudo, tudo era feito com maestria, até juntava moedas para o presente, que esforço lindo, e era sempre tudo excepcional, acima de minhas expectativas, o local nem se fala, o momento, as palavras, até mesmo o disfarce de que não tinha programado nada, a noite seria em casa, de boas, nem as cartas e juras eternas de sempre, nada eu esperava tão ansioso, porque eu sempre ficava tranquilo, vindo de você seria sempre algo inesperado... Era a maneira perfeita de dar o presente e a expectativa de que o brilho em meus olhos fosse de satisfação e alegria, e sempre foi alcançado, acredite em mim. Os presentes. O momento. Tudo acontecia da melhor forma possível, nada poderia dar tão certo por tanta dedicação e planejamento, era o mínimo, e eu pensava: como ela é perfeita nesses lances de fazer alguém se sentir tão especial. E foi assim até o último presente, arquitetou, planejou, se dedicou e colocou em prática todas as artimanhas possíveis, hoje vejo que ainda mais dessa última vez. Mas como diria Sherlock Holmes, não existe crime perfeito, que na verdade estou dizendo isso mas creio que ele nunca na verdade falou isso, mas quero imaginar que sim. Mas assim, você conseguiu me dar o maior presente, é bom registrar que é o MAIOR e não o melhor. Enfim, você me deu o maior presente que eu poderia receber, o presente que marcaria minhas lembranças pelo resto da minha torta vida, e disso eu tenho plena e absoluta certeza que por mais que lá na frente eu não lembre de uma forma tão intensa, mas sempre lembrarei desse seu presente, porque você entre todas as pessoas foi a que conseguiu essa proeza e isso posso estar dizendo agora mesmo pelo momento e sentimentos que estou vivendo, exageros de poetas, claro, mas sim, até o presente momento você foi a pessoa que melhor me atingiu, foi certeira. Mas eu acho que você de certa forma sempre quis me afetar de uma maneira sempre marcante, mostrar para mim que poderia e conseguiria me acertar bem no alvo, você acertou, e fiquei destruído por dentro, sem ação, sem respirar, sem saber até mesmo que eu estava vivo e aquilo tudo era sim real, e dizem que nos últimos segundos quando alguém leva um tiro, o cérebro ainda permanece consciente e você pode ainda ouvir algo... e eu ouvi e foi o final, eu vi o seu desespero não só de ser descoberta, mas desesperada com a chance de perder aquele que foi o seu motivo de me dar o MAIOR presente, e ainda disse: “é que eu gosto dele” e eu ouvi isso, e essa sua frase entrou como a lâmina quente enfiada lentamente olhando nos olhos. Dessa vez creio que o presente era para ficar em oculto, ser entregue da maneira que eu nem sequer percebesse e nunca haveria de descobri-lo. Mas é um presente, então porque eu não poderia descobrir?! Hum, a vida não permitiu que fosse assim... Ela foi lá e disse: mas como?! Um presente que se prepara, mas não o entrega e nem sequer a pessoa ficará sabendo? Sim, você queria que essa surpresa que me tomou de arroubo e me deixou no chão sem ação alguma com a bunda doendo, não fosse por mim descoberta, muito menos por ninguém mais, era sua e somente sua, o seu plano triunfal que iria ser comemorado sempre às escondidas consigo mesma, diante do espelho, ou não. Quanto drama, né? Poderia ser também o seu segredo mais sombrio, que nunca iria ser revelado para ninguém, até o fim. Mas dessa vez independente de presentes, e como falei ali em cima, não existem crimes perfeitos, e dessa forma o que realmente quero falar é da imensa surpresa antecipada que eu tive nesse meu aniversário. Você conseguiu de maneira magistral me marcar da maior forma possível que alguém sequer poderia imaginar, algo de fato megalomaníaco, faraônico. Mas dessa vez a surpresa quem teve foi você. E teu arrependimento creio eu, é na verdade apenas de eu ter descoberto, a máscara caiu, não só para mim mas para todo mundo que tinha uma imagem boa sobre você.

Fiquei marcado sim, fiquei surpreso sim, o presente foi enorme, gigantesco, e te digo de uma forma muito sincera, creio que e torço realmente que não cruze mais com alguém com essa destreza que você possui. O presente foi seu. Mas quem te surpreendeu fui eu. Parabéns para mim. 

Feliz aniversário para o poeta.