Hoje eu não falarei de mim,
Não falarei de nada que envolva minha pessoa,
Serei uma variável persona,
Apenas o pseudônimo que ninguém sabe que sou.
Serei várias cenas em um palco, várias falas, várias almas,
Várias deixas que não se calarão às palmas.
Hoje não contarei de mim,
Falarei apenas do que não lembrará de mim.
Hoje, é dia de vestir a roupa da invisibilidade,
Quero que todos me leiam, mas não me vejam,
Quero que todos pressintam, mas não me toquem,
Quero que todos suspeitem, mas não me beirem.
Não, não quero nada que me torne evidência,
Não quero nada que me deixe às claras,
Hoje quero ser uma linha imperceptível,
A linha de destino da palma das tuas mãos,
Hoje quero ser apenas o que se cala,
Observa e se assombra.
Hoje eu quero ser o canteiro de uma praça,
Que passem ao lado sem me perceber...
Quero ser aquele banco da praça molhado que todos evitam,
Eu quero ser os arrulhos dos pombos que estão famintos.
Apenas inerente ao que se passa ao redor,
Cônjuge das planícies mudas,
Amigo do vento que canta teu silêncio,
Hoje é o dia que não falarei de mim,
Assim não terei que falar de ti.